quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Adeus Ano Velho...


Diz a lenda que aquilo que fazemos no réveillon se repetirá por todo o ano. Será que isso é verdade? Resolvi tirar a prova! Mas como minha memória é fraca, vou me ater à última "virada", a de 2008 para 2009.

31 de dezembro de 2008. Eu estava de plantão na tv. Não me lembro ao certo, mas devo ter trabalhado das oito horas da manhã até oito horas da noite, como é de costume num plantão. Depois do expediente, fui para Pindamonhangaba. A programação: festa da família da minha então namorada, na casa de um primo dela.

A opção foi boa. A casa estava cheia e oferecia até um mini salão de jogos, com mesa de bilhar e pebolim. Bebemos, conversamos, demos risada, jogamos. Chegou então a meia-noite, e com ela o ano de 2009. Fogos. Abraços na família e também nos outros parentes dela que eu acabara de conhecer. Foi tudo bem divertido, mas acabou sendo breve. Como estávamos os dois de plantão, fomos embora cedo da festa. Afinal, o dia 1 de janeiro nos reservava mais doze horas de jornada no trabalho.

Alguns dias se passaram e logo chegaram as férias. Tempo de viajar! Primeiro o litoral sul de São Paulo. Depois Curitiba e Ilha do Mel. E, por fim, o Rio de Janeiro, com direito a passagem pela Região dos Lagos. Tudo muito bom! Mas as férias nunca duram o quanto precisamos. E logo estava de volta ao trabalho.

Fevereiro passou sem grandes novidades. Afinal, no mês mais curto do ano, apenas o Carnaval salva. Março sim foi um mês daqueles. No dia 11 completei 27 anos. E poucos dias depois, me dei um carro, de presente. Confesso que já ganhei presentes que usei bem mais. Aquilo não é um carro, e sim um barco. Onde já se viu comprar um carro só porque o nome dele é o mesmo do Wolverine? E até hoje tento vender meu Logan.

Nos meses seguintes, brinquei de aprender a dirigir. Não com o Logan, mas sim com um bom e velho Uno. Cometi algumas pequenas barbeiragens, mas atingi meu objetivo: não matei ninguém! E assim passou Abril. Maio e Junho também se foram. Julho seguia o mesmo caminho, até que aos quarenta e cinco minutos do segundo tempo veio o inesperado. "Aí sim, fomos surpreendidos novamente", diria o velho Zagallo. O fim de um namoro de mais de três anos. História que contei no primeiro post, sobre o dia 30 de julho -- "Uma vida em um dia".

Agosto foi um mês de reflexão. De parar e pensar na vida. Um mês para reconstruir.

O recomeço mesmo veio em Setembro. Hora de buscar coisas novas. Escrever um blog, voltar à academia, procurar hobbys diferentes. Esse mês serviu também para estabelecer novas e importantes amizades, e se reaproximar de velhos e bons amigos.

E foi ao lado dos novos e velhos amigos que passei por Outubro, Novembro e Dezembro. Pode parecer pouco tempo, mas foi o suficiente para viver histórias das quais vou me lembrar para sempre!

Se é verdade que aquilo que fazemos no réveillon se repete por todo o ano? Com base em 2009, aposto que sim! Afinal, esse ano que passou foi uma festa! Com direito a conhecer novas pessoas, reencontrar velhos amigos, beber, sofrer com a ressaca, se divertir e se despedir. Talvez cedo demais. Talvez no tempo certo.

E que venha 2010! Uma nova festa! Melhor ainda se for "open bar"!


"Eu vejo um novo começo de era
De gente fina, elegante e sincera
Com habilidade pra dizer mais SIM do que NÃO"


(Lulu Santos)

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Assim Seja

A foto acima foi tirada na Primeira Comunhão da minha irmã Marina e da minha prima Maria Luiza. Era manhã de domingo. Acordamos cedo – coisa que eu não estava acostumado a fazer – e fomos para a Igreja da Santa Terezinha. Eu não entendia muito bem o que estava acontecendo, mas sabia que a cerimônia era importante. Até minha avó materna e meus primos vieram do Rio de Janeiro para acompanhar.

Mesmo assim, eu não tinha conhecimento do real significado da Primeira Comunhão. Para mim, as aulas só serviam para ocupar as manhãs de sábado. E as crianças só faziam o curso porque eram obrigadas pelos pais. Isso aconteceu com meus primos e com meus amigos. Por sorte, a postura da minha mãe era outra. Ela deixou que escolhêssemos. E eu nunca quis fazer. Preferia dormir ou jogar bola.

Com minha irmã foi diferente. Ela fez o curso e por isso, naquele domingo, estávamos reunidos. Eu vestia camiseta e bermuda brancas, e usava um tênis sem meia, com o cadarço ridiculamente amarrado em volta da canela. Eu estava me divertindo? Sim. Mas por um simples motivo: íamos tirar várias fotos. Ou seja, seriam várias oportunidades de fazer “chifrinhos”. Minha mão já estava tão preparada para essa missão que o “chifrinho” nem saía mais dela. Como prova a foto.

A cerimônia foi realizada. Para mim, parece que demorou uma eternidade. Lembro que tudo era muito chato, com exceção da menina gordinha que caiu quando ia receber a hóstia e das brincadeiras com meus primos. Será que fazer “chifrinho” no altar é pecado? Depois disso, os anos se passaram e eu custei a voltar a uma igreja.

Por volta dos 12 anos, me recordo da pergunta que uma tia me fez: “Você não é católico?”. Eu nunca tinha parado para pensar nisso. Naquele momento, refleti. Eu nasci numa família católica. Fui batizado. Quando tinha medo de algum monstro, rezava. Mas não, eu não era católico. E enfrentei certo conflito interno ao concluir algo além: eu era ateu.

Quando minha tia escutou aquilo, quase teve um ataque. “Quer dizer que você gosta do diabo?”, ela perguntou. Dessa vez, nem precisei pensar para responder. “Claro que não”. Quem não acredita em Deus vai acreditar no seu arquiinimigo? Os religiosos que me perdoem pela comparação, mas seria o mesmo que confiar na existência do Lex Luthor quando se duvida da veracidade do Super-Homem.

É fácil ser ateu num país predominantemente católico? Não. As pessoas mais próximas sempre souberam da minha crença. Digo isso porque, para mim, o ateísmo não é uma ausência de crença. E sim acreditar de forma diferente.

Nunca menti, nunca disse ser católico ou possuir qualquer outra religião. Mas confesso que, em algumas ocasiões, omiti o fato de ser ateu. E por que será que fiz isso? Em relação a meus avós, acho que foi para não criar desgosto. Ou polêmica, já que os dois lados da família são bem ligados à Igreja. O mesmo fazia com as famílias das namoradas, ou quando estava em algum lugar onde fosse acontecer alguma novena. “Julio, você não reza? Por que fica quieto?”, foi uma pergunta que ouvi muito. “Eu rezo em silêncio”, eu respondia, sem graça. Até porque acho que já esqueci os versos do Pai-Nosso e da Ave-Maria.

Outra coisa: ser ateu não é uma escolha. Assim como imagino que ser cristão também não seja. Não se decide no que acreditar. Podemos até receber educação religiosa, sermos introduzidos no catolicismo, presbiterianismo, umbanda, que seja. Mas tudo vai depender das coisas que vivenciarmos. São os acontecimentos que definem quem somos. Não é possível se forçar a acreditar que o céu é azul quando se enxerga um horizonte de outra cor.

Esse texto não é para tentar “catequizar” ninguém às avessas. Primeiro porque não sou o dono da verdade, e posso facilmente estar enganado. Segundo, porque sempre respeitei as religiões. As instituições não, pois acho que estão corrompidas em sua maioria. Mas o poder da fé é inegável. E gosto de ver atos que demonstrem tamanha devoção. Acho que as pessoas que os têm encontram uma paz que não tem preço.

Já ouvi muito se dizer que quem não tem Deus no coração não é feliz. Discordo. Sou feliz. Sempre fui. Era antes de perceber que não era católico. E sou igualmente depois de concluir que sou ateu. Ou melhor, acho que sou até um pouco mais feliz agora. Afinal, as festas religiosas continuam servindo para reunir a família e matar a saudade de pessoas que gostamos muito, mas não podemos ver tanto. O Natal está logo aí, e é prova disso. O que mudou então? Ao contrário da Primeira Comunhão, a ceia e a entrega de presentes acontecem à noite, e posso dormir até mais tarde.

Amém.


"Com o critério com que julgardes, sereis julgados; e, com a medida com que tiverdes medido, vos medirão também."

(Jesus Cristo)

sábado, 14 de novembro de 2009

Why so serious?

Sou bem tímido. Aliás, sempre fui. De nascimento, creio. Por isso, pra sobreviver às primeiras “interações sociais” desenvolvi uma tática: o humor. Fazer piadas, por mais idiotas que fossem – em geral, sempre eram mesmo.

Acho que deu certo. Embora tenha desenvolvido um vício – talvez – irritante: as piadas ruins. Mas, de certa forma, essa “tática” me rendeu um bom ensinamento: rir de tudo, levar a vida na esportiva.

Não consigo entender as pessoas que reclamam tanto. E não falo daquela reclamação rabugenta, do mau humor divertido. Estou me referindo àqueles que enxergam drama em qualquer situação que vivem. Que parecem ver, a cada obstáculo, um sinal do fim do mundo.

“E agora, o que vou fazer?”. Uma dica: o primeiro passo é parar de chorar. A única piada sem graça que a vida pode nos pregar é a morte. De todas as outras, é possível dar risada.

Creio que a maior lição que aprendi foi ensinada pelo meu primo Bruno. Tínhamos a mesma idade – nascemos com apenas uma semana de diferença. E aos 16 anos, durante a briga contra o câncer, ele teve que amputar uma das pernas. Eu lembro que fiquei quase um ano sem ir ao Rio de Janeiro, pois tinha medo de não agüentar ver meu “meio-irmão” naquela situação.

Quando finalmente criei coragem, vi uma cena que lembro até hoje, com riqueza de detalhes. Abri a porta do apartamento do Bruno, e ele estava sentado no fundo da sala. Ao me ver, levantou-se do sofá e veio rapidamente em minha direção, pulando em uma perna só. E o que trazia com ele? Um grande e sincero sorriso.

Os dias se passaram, e a felicidade do Bruno me surpreendia a cada instante. Parecia ter mais ânimo que qualquer um de nós. Eu nunca tinha visto alguém jogar bola de muletas. E vibrar tanto a cada lance.

É essa a recordação – e também esse o ensinamento – que carrego comigo. Acho que o sorriso é um sinal, mesmo que momentâneo, do otimismo. Afinal, o oposto – o pessimismo – normalmente não vem acompanhado dele.

É o pessimismo que faz com que as pessoas sofram por antecedência. Por que tantos teimam – quando pensam sobre algo que ainda não se tem certeza – em esperar sempre pelo pior? Por que não damos crédito à vida, será que ela não pode nos surpreender de forma positiva? É claro que pode.

Enfim, se for pra chorar, que seja por um bom motivo. Senão, vale muito mais a pena sorrir e aproveitar a vida. Mesmo que a piada não seja tão boa!

“Só existem dois dias no ano que nada pode ser feito. Um se chama ontem e o outro se chama amanhã, portanto hoje é o dia certo para amar, acreditar, fazer e principalmente viver.”

(Dalai Lama)


“Viver!
E não ter a vergonha
De ser feliz
Cantar e cantar e cantar
A beleza de ser
Um eterno aprendiz...

Ah meu Deus!
Eu sei, eu sei
Que a vida devia ser
Bem melhor e será
Mas isso não impede
Que eu repita
É bonita, é bonita
E é bonita...”


(O que é, o que é? - Gonzaguinha)

terça-feira, 15 de setembro de 2009

A menina de vermelho

Quem já assistiu “A Lista de Schindler” vai entender esse texto. Quem ainda não viu, espero que também entenda.

O filme se passa na Polônia, durante a Segunda Guerra Mundial. É todo feito em preto-e-branco. Ou melhor, quase todo. A introdução e o encerramento são em cores. E, em outras duas cenas especiais, a cor também aparece. Para mudar a história.

Obviamente, o uso delas, das cores – por Steven Spielberg – é proposital. O preto-e-branco representa o mundo da forma como Oskar Schindler o via. Sem choque, comum. Como se a brutalidade cometida pelos nazistas fosse natural.

Já o vermelho da roupa da menina é um divisor de águas. Ele se destaca, em meio a uma multidão de judeus, para deixar claro que aquilo chamou a atenção de Schindler. Foi aquela menina que fez com que o empresário ganancioso voltasse a enxergar a realidade. E, consequentemente, salvado mais de mil pessoas da morte.

“Quem salva uma vida, salva o mundo inteiro”. Essa é a frase que define o filme. E o que aconteceu nele – na essência – se repete todos os dias.

Quem nunca viveu alguma situação triste e passou a enxergar o mundo em preto-e-branco? Tudo parece sem graça. Nada vale a pena. E você passa a querer, unicamente, poder voltar no tempo. Até aquele tempo em que havia motivo pra tudo.

Eis que aparece a “menina de vermelho”. Ela não precisa, necessariamente, vestir vermelho. Pode ser verde, branco, amarelo, preto. Tanto faz. O que importa é que, por algum motivo, ela mexe com gente. Nos dá um grande chacoalho. E esse contraste nos faz enxergar todas as cores novamente.

Em alguns casos, a “menina de vermelho” nem precisa ser uma menina. Pode ser um velho amigo. Um novo amigo. Um desconhecido. Pode nem ser uma pessoa. Ser apenas uma frase lida em uma revista. Um filme.

A “menina de vermelho” pode parecer um acaso. Pode surgir por acaso, da forma mais improvável. Mas o certo é que nada mais será como antes. Ela chega para mudar uma vida, o mundo todo. E por mais que a força dela possa assustar – assim como a constante presença dela, mesmo quando ausente – é um segredo que vale a pena desvendar. Afinal, nada é em vão.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

O Anjo Mau

A minha memória é bem falha. Tem espaços e mais espaços em branco. Mas desse dia eu me lembro bem – afinal, motivos não faltam.

Estávamos na casa da Imatra, uma amiga chilena da minha mãe, que havia morado com a gente por um tempo. Enquanto as duas conversavam, a diversão das crianças era brincar no beliche. Eu devia ter 4 anos. Mesma idade do Davi, filho da Imatra. Meu irmão Guilhermo e minha irmã Marina completavam o time.

Nossa tarefa era simples. Escalávamos o beliche por um colchão, que estava apoiado entre a cama e a parede. E, lá do alto, pulávamos para o chão. Com o passar do tempo, cada um foi tentando um salto diferente, mais arriscado. E de que vale isso sem a aprovação, orgulhosa, de um adulto?

Acho que foi exatamente isso que o Davi pensou. Na vez dele, tentou chamar – em vão – a atenção da mãe. “Mãe, vou saltar! Olha aqui!”. Como a Imatra não olhou, ele retardou o salto. Eu era o próximo na fila, e comecei a ficar irritado. Por isso, quando o Davi finalmente decidiu pular, eu decidi dar um ‘empurrãozinho’. Nada tão forte, mas o suficiente para que ele desse uma cambalhota no ar, e caísse de cabeça no chão. Fim da noite!

Nesse ponto, minha memória ganha um novo espaço em branco. E retorna apenas dias depois, para um breve diálogo. “Mãe, o que é traumatismo craniano?”, perguntei. “É como se o Davi tivesse rachado a cabeça, Julio”, ela respondeu. “Mas agora ele já está bem, não vai morrer. E sabe o que ele disse pra Imatra? Que ele só caiu porque você o empurrou!”. “Não, mãe. Não fiz nada, eu juro!”.

Enfim, o Davi sobreviveu. E graças a minha resposta rápida, escapei de levar umas palmadas.

Mas anos mais tarde, não teve jeito.

Aos 7 anos, eu tinha ciúme do meu irmão, pois ele sabia desenhar, e eu não! Certo dia, descobri um símbolo que eu conseguia reproduzir perfeitamente. Era minha chance de provar que eu também tinha esse dom. Só faltava um lugar para desenhá-lo, que chamasse a atenção.

Após pensar um pouco, decidi. A ‘tela’ da minha ‘obra-prima’ seria a boneca da minha irmã. A principal delas. Com a caneta em mãos, desenhei aquele símbolo duas vezes: uma na testa e a outra na perna da boneca. Era simples. Bastava fazer uma espécie de cruz e, em cada uma das quatro pontas, fazer outro risco, sempre para o mesmo lado.

Obviamente, minha mãe não gostou da minha ‘veia artística’. Apanhei, e muito. Ela me bateu por ter marcado, para sempre, a boneca preferida da minha irmã. E também me bateu pelo símbolo que eu havia desenhado. Quanto à boneca, fui réu confesso. Aceitei as palmadas. Mas quanto ao símbolo, não. Afinal, que criança, aos 7 anos de idade, sabe o que significa uma suástica? Eu nem sabia o que era o nazismo!

Certas desculpas acabam com o tempo. Aos 14 anos, eu já sabia o que era o nazismo. Também já conhecia o significado da suástica. Mas, mesmo assim, ainda era capaz de provocar pequenos ‘holocaustos’. Era uma época de desentendimentos entre eu e a Rose, que trabalha em casa há 15 anos. E percebi que, todos os dias, ela tirava minha garrafa com água da geladeira, para colocar no lugar a mamadeira da filha dela, a Joyce – na minha cabeça, um ato para me provocar.

Eu precisava agir, e fui rápido. À noite, abri a mamadeira e despejei, no leite, um pouco de pimenta. Não a pimenta em si, mas o óleo dela. E devolvi à geladeira.

Pela manhã, na escola, fui contar minha façanha para meus amigos. “...daí, quando ela for provar o leite, pra ver se está quente, vai tomar toda a pimenta!”. Foi aí que um dos meus colegas me alertou: “Julio, se o leite está na geladeira, é óbvio que não está quente. Ela vai dar direto para a filha”. Entrei em pânico. “Se a menina não tem nem 2 anos, você vai matá-la!”, ele completou, aumentando meu desespero.

Corri como um louco para o orelhão da escola. Liguei para casa, mas ninguém atendeu. “Caramba, já são quase 10 da manhã. A essa hora, a Joyce deve ter tomado o leite! Devem estar todos no hospital”, pensei.

Felizmente, não foi isso que aconteceu. O óleo da pimenta não se misturou ao leite, e quando a Rose pegou a mamadeira, viu que tinha algo errado. A Joyce estava salva. E eu levei apenas uma bronca – aos 14 anos, as palmadas já eram coisa do passado.

Esses três fatos são apenas alguns dos ‘atentados’ que provoquei. De alguns outros, já me esqueci. E certas histórias, como a de quando bombeiros e polícia foram chamados em casa, por motivos distintos, num mesmo dia, valem um post sozinhas.

Com histórias como essas, vinte e sete anos já se passaram. Nesse tempo, fiz algumas coisas que poderiam ter dado muito errado. Aliás, nunca me perguntei por que não deram. Que tipo de força salvou o Davi e a Joyce? Não sou religioso. Não acredito em anjos. Mas, felizmente, aqueles que protegem as pessoas que estão ao meu lado são muito – mas muito – fortes!

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Com que roupa eu vou?


Cheguei do trabalho, apressado. Tinha combinado de encontrar uns amigos no bar. Tomei um banho, me arrumei e já ia saindo de casa quando minha mãe perguntou:
-"Você vai jogar bola?"
Como eu já disse, eu tinha acabado de tomar banho. Estava de calça jeans e uma camiseta de manga comprida, nova.
-"Mãe, parece que estou vestido para jogar bola?"
Ela deve ter ficado constrangida, e tentou consertar:
-"Ah, é que você sempre faz isso. Há algumas semanas, você veio em casa e tomou banho antes de sair pra jogar bola. E também foi mais arrumado."
...
Na verdade, eu não jogo bola há uns 2 anos! Ou seja, nessa vez a que minha mãe se referiu, "há algumas semanas", eu também havia ido para casa, tomado banho e me arrumado para sair! Para um bar! Não para jogar bola!

Esse diálogo que tive com minha mãe me fez pensar: "Das duas, uma: ou eu sou um viado, que toma banho e se arruma para jogar bola, ou eu me visto mal pra caralho!".

Obviamente, a primeira alternativa está descartada. Quer dizer: na cabeça da minha mãe, eu não sei. Mas eu garanto: ela não procede! Já a segunda opção tem bastante fundamento!

Em toda a minha vida, eu usei terno apenas 3 vezes -- pelo menos, só me lembro dessas. A primeira foi na minha formatura da faculdade, aos 23 anos! A segunda, em outra formatura, de amigos. E a terceira, em um casamento -- não queria usar terno, mas era obrigatório para os padrinhos.

Tudo bem, justificar minha conclusão no número de vezes que usei terno pode parecer um exagero. Afinal, entre um terno e uma roupa de mendigo existe uma grande variedade de estilos. Mas também não foram muitas as ocasiões em que usei uma roupa mais social (no meu entender, 'roupa social' é a combinação de uma camisa de botão, um sapato e uma calça que não seja jeans). Isso só aconteceu em casamentos e na apresentação do meu trabalho de conclusão de curso, na faculdade.

Concluindo: se não existissem casamentos e faculdades, eu nunca teria usado um terno. Nem mesmo uma 'roupa social'!

Por falar em faculdade, ela me deu dois grandes ensinamentos sobre o meu jeito de me vestir. Em primeiro lugar, um dos motivos para eu largar o curso de Direito foi o fato de eu não querer ser obrigado a trabalhar de terno. Verdade. A segunda lição veio no jornalismo. Um professor me usou como exemplo em uma atividade. Ele estava falando sobre como descrever uma pessoa ou objeto. "O que poderíamos dizer sobre o Julio? Que ele é um cara tranquilo, sereno e apresenta uma simplicidade indumentária!".
...
Simplicidade indumentária. Se um professor que eu via poucas vezes por semana, há apenas alguns meses, foi capaz de me definir assim, o que podem dizer as pessoas que me conhecem há mais tempo? Eu não tinha dúvidas. Todas concordaram com o professor. E o termo 'simplicidade indumentária' me acompanha até hoje. "Ah, Julio! Mas tá reclamando do quê? Em quatro anos de faculdade, nunca te vimos usando calça! Era sempre bermuda, tênis sem cadarço, camisa surrada. E pra ajudar, nem penteia o cabelo!". Mentira deles! Usei calça uma vez na faculdade! Em um trabalho de teatro. Eu interpretei o Seu Madruga! E a calça fazia parte do figurino!

Recentemente, passei outra situação constrangedora por causa das minhas roupas. Estava em casa, me preparando para dormir. Camisa velha, a combinação "chinelo com meia" e uma calça que comprei no carnaval de São Luiz do Paraitinga, feita com retalhos coloridos. Precisava descer para abrir a porta para um amigo, que ia embora. Pensei: "pô, meia noite. Não corro o risco de encontrar ninguém no prédio"! Grande engano. Abri a porta do elevador e quem estava lá? A vizinha gostosona. Se eu tinha alguma chance com ela, foi-se embora naquele exato momento. E o pior. Ela ainda deve espalhar pelo prédio: "O viadinho do 42 fica com os amigos em casa, até o fim da noite, brincando de 'micareta', se esbaldando num carnaval fora de época!".
Apesar de tudo que já passei, não ligo. Não vou mudar. Tá reclamando das minhas roupas? Poderia ser pior. Você ainda não me viu sem elas...

PS: essa última frase é mentira. Entre as pessoas que já me viram sem roupa, estão algumas das que mais reclamaram do meu jeito de me vestir.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

O homem mais sortudo do mundo



Eu tenho rinite. Praticamente não respiro pelo nariz. Mas calma. Obviamente não é por isso que sou “O homem mais sortudo do mundo”.
Mas existe, sim, certa relação. Pois o título desse texto faz referência a uma das pessoas que fazem minha vida ter sentido -- e dão "cheiro" às coisas que acontecem nela.

Sim, apesar da rinite, eu sou o homem mais sortudo do mundo. Afinal, quantas pessoas nascem tendo, a seu lado, o melhor amigo, já pronto?
Tudo bem. Ele não estava literalmente a meu lado. E também não estava exatamente pronto. Com apenas um ano e pouco mais de um mês, ele devia estar em casa. Possivelmente dormindo. E provavelmente nem tinha consciência de que acabara de ganhar um irmão.

É lógico que eu não me lembro do primeiro contato com ele. Eu, com certeza, não disse nada. Ele, talvez, tenha chorado. Mas não por minha causa. E sim por fome.
A memória também não guarda os primeiros anos dessa amizade. Mas as fotos revelam que foram especiais.

Das partidas de futebol me recordo bem.
Primeiro, de botão. A coleção que herdamos de nosso pai – e desperdiçamos, brincando de jogar tudo para o alto. A nossa própria coleção, que tentamos fazer em parceria – e desfizemos, depois de algumas desavenças. E também das vitórias da minha poderosa União Soviética, que tinha a muralha Dasaev (uma mistura de caixinha de fósforo, parafusos e fita isolante), em cima da fraca Romênia dele, do decadente craque Lacatus.

O futebol também ganhava as ruas. E aí, ele era insuperável. Por mais que eu me esforçasse, meu irmão conseguia fazer a bola passar pelo gol de pedras mais vezes. Diferença que só desaparecia quando jogávamos no mesmo lado. Quando, com nossos primos, formávamos o time dos Codazzi. Simplesmente imbatível.

Também sabíamos jogar futebol em dupla. No quarto, apenas com uma bola de tênis e um gol rabiscado na parede. Ou durante uma tempestade, no campinho de um condomínio em Iguaba Grande. Nunca me esqueci de uma defesa que fiz, em cima de uma poça d’água. Engoli barro e grama. Mas salvei aquele gol.

A nossa dupla não brilha apenas no futebol. Ela existe em qualquer campo. Existe apesar de todas as brigas que já tivemos. E existe, principalmente, por todas as brigas que ele já comprou, apenas para me defender.

Já ficamos meses sem trocar uma palavra sequer. Eu já disse coisas que o magoaram. E já escutei algumas também. Mas, quase três décadas depois, nossa amizade continua forte. Intacta.
Talvez eu nunca tenha dito o quanto gosto dele. O quanto ele é importante, e o quanto eu me orgulho de tê-lo como meu irmão. Mas acho que isso nem é necessário. Afinal, já éramos os melhores amigos antes mesmo de aprendermos a falar.